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terça-feira, 24 de maio de 2016

AS SETES BRAGAS DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO E MINÉRIO NO BRASIL



Primeira praga: a corrupção

         Em 2008, pouco depois do anúncio da imensa descoberta de petróleo no pré-sal brasileiro, que achar óleo normalmente prejudica mais do que ajuda os países. Governos de países muito ricos em petróleo quase sempre "não prestam contas a ninguém, roubam descaradamente, torram dinheiro público e a sociedade civil é fraca, desestruturada", dissemos. É que petróleo é tão incrivelmente lucrativo que, normalmente, atrai uma multidão de chupins querendo tirar uma lasquinha, e esses chupins ficam tão ricos que não dão a mínima para a opinião de ninguém, o que mina a democracia. No caso do Brasil, tivemos o pior dos dois mundos: os chupins apareceram, pimpões, mas o lucro do petróleo nem chegou a jorrar direito porque as quedas dos preços internacionais deixaram o pré-sal caro demais para explorar. Não é à tôa que o foco central dos escândalos de corrupção que ameaçam dragar todos os maiores partidos políticos e quase todas as maiores empresas brasileiras, é justamente a Petrobras, por onde fluíram bilhões que deveriam financiar a exploração do petróleo.

Segunda praga: a seca
              
       Muito se fala sobre a crise de abastecimento de água em cidades como São Paulo. Pouco se fala do fato de que essa crise é muito mais ampla e afeta basicamente o Brasil inteiro. O ar amazônico está mais seco, com isso chove menos no Cerrado, o que seca o solo, reduzindo a vasão de todos os grandes rios brasileiros. Mês passado, a Folha de S.Paulo descobriu que 1 em cada 5 municípios brasileiros estava em estado de emergência ou calamidade pública, e a seca é de longe o problema mais frequente - enfrentado por 77% deles. Isso é um problemaço para o Brasil porque o país é o maior exportador de água do mundo. Quase todos os principais produtos brasileiros de exportação consomem quantidades oceânicas de água na produção: é o caso do café, soja, carne, alumínio. Tanto é assim que hoje o Brasil exporta mais água do que consome (3,5 milhões de litros por segundo exportados, contra 2,4 milhões consumidos). Se o país secar, seus cofres secam também.

Terceira praga: a inundação

       Mas, apesar da seca, as barragens do horroroso reservatório da Samarco, em Minas Gerais, se romperam e espalharam resíduos tóxicos por milhares de quilômetros rio abaixo e mar afora. A tragédia ambiental, ainda imensurável, pode ser apenas o começo: dezenas de outros reservatórios operam pelo Brasil sob pressão de aumentar a produção e sem nenhuma fiscalização séria das autoridades locais e federais, que são dependentes demais da grana da mineração. O setor minerador do Brasil é uma imensa bomba relógio.

Quarta praga: a peste

    E, se uma onda de lama tóxica não é aterrorizante o suficiente para você, que tal então comedores de cérebro que se escondem em mosquitos? Como se não bastasse nosso inferno astral, de uma hora para outra uma epidemia horrível teve origem ano passado em Pernambuco, de onde ganhou o mundo: a zika. Difícil pensar numa doença pior: um vírus sorrateiro, que quase não deixa rastro e vai saltando de humano para humano de carona num mosquito cuja população explodiu globalmente nos últimos anos, desde que as mudanças climáticas se intensificaram. Como não falta carona, o vírus vai se espalhando pelo mundo todo. Até que, quando menos se espera, ele avança e destrói o cérebro dos bebês humanos. Terrível.

Quinta praga: a quebra

             Cada moeda no seu bolso perdeu quase 50% do seu valor (em dólar) apenas no último ano. Embora alguns brasileiros - donos de banco, em especial - lucrem alto com os chacoalhões da economia, a maioria de nós empobreceu a olhos vistos na comparação com os seres humanos de praticamente qualquer outro país do mundo. Com o swell da recessão se erguendo ameaçador no horizonte, empresas vão fechando, empregos evaporando, enquanto as nuvens do pessimismo fecham o tempo. A economia brasileira enfrenta uma "tempestade perfeita", e a sensação é de que não tem ninguém manejando o timão.

Sexta praga: a discórdia

Aí, em meio à tragédia, o Brasil virou uma imensa arquibancada, na qual cada pessoa está convicta de estar aliada aos bons e justos, enquanto que todo mundo do lado oposto é estúpido e sanguinário. O sistema político, que havia sido desenhado para tornar possíveis soluções coletivas para os grandes problemas, tornou-se uma câmara de raiva, que se consome na disputa pelo poder e já não se importa com o mundo lá fora. Ninguém mais sabe o que quer: a única certeza é o ódio. Nenhum dos grandes partidos políticos brasileiros tem resposta alguma para as grandes questões do país (as pragas listadas acima), eles só falam do quanto o outro lado é inepto. Só o que sabemos é que nossos inimigos são cretinos. E que nós somos santos.

Sétima praga: a desesperança



              Em meio à catástrofe de dimensões bíblicas, uma epidemia de desânimo está tomando o Brasil. O Facebook foi tomado por profetas do apocalipse, que decretam a impossibilidade do Brasil, enquanto arrumam as malas, convencidos de que a corrupção é um traço eterno e inescapável de nossa cultura. Ninguém vê saída para além do aeroporto.

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